Arquiteturas do Sul Global é o título do curso ministrado pelos arquitetos Marco Artigas e Pedro Vada, por meio da Associação Escola da Cidade, que tinha como objetivo ampliar o repertório sobre a produção arquitetônica contemporânea levando em consideração a urgente necessidade de novos olhares, fundamentalmente contra-hegemônicos. Partindo do conceito de Sul Global em consonância com uma visão de união entre os países que passaram por processos de colonização, o curso, ministrado entre setembro e dezembro de 2020, estabeleceu constantes diálogos com arquitetas e arquitetos que mantém sua atuação ou residência nos países deste chamado sul.
A ideia desses encontros foi discutir o que e como estão construindo nesses países, com base em uma conversa mais direta sobre as questões colocadas pelos diversos territórios, sociedades e culturas, explorando com maiores detalhes o processo e as decisões tomadas em cada projeto, com documentação mais rica que as utilizadas em publicações, abordando reflexões estruturais e temas urgentes.
Assista, a seguir, aos três últimos encontros organizados pelo curso com Adengo Architecture (Uganda), Comunal: Taller de Arquitectura (México) e DnA: Design and Architecture (China).
Adengo Architecture (Kampala/Uganda)
Doreen Adengo tem sua prática focada em defender o valor da arquitetura e urbanismo nas cidades africanas. Em um contexto de altos índices de autoconstrução, acredita ser fundamental mostrar que arquitetos e urbanistas podem melhorar a vida cotidiana, ajudando as cidades a se desenvolverem de forma sustentável.
Com o título Advocating for Architecture in Kampala, participaram também da conversa a arquiteta Nina Peters e o arquiteto Franklin Kasumba, integrantes da equipe do escritório. Logo na abertura Doreen expõe o seguinte pensamento, que norteará uma parte da conversa:
Sei que o título deste curso é Sul Global, mas acredito firmemente na troca de conhecimentos entre norte e sul. Penso que há um benefício e vou explicar sobre esse tema. Na prática temos uma formação constante da minha equipe e também em mim. Descobri que há uma força no intercâmbio de conhecimentos de sul para sul e também de norte para norte.
Entre os projetos apresentados pela equipe estão o Nakasero Market, que é resultado de um workshop realizado em 2020 em Kampala, Uganda e o African Mobilities (3X3).
Comunal: Taller de Arquitectura - Cidade do México/México
Formado por duas mulheres, Mariana Ordóñez Grajales e Jesica Amescua Carrera, Comunal é um ateliê de arquitetura que tem sua prática fortemente relacionada aos processos de negociação entre consensos e dissensos. Trabalham contra a figura de autoria, de objeto estático, artístico e imodificável, mas sim como um processo social, colaborativo, vivo, aberto e em evolução constante, encarando os habitantes como sujeitos de ação e não como objetos de intervenção. Em seus projetos incentivam e facilitam a participação de mulheres (adultas, jovens e crianças) nos processos estratégicos, administrativos e construtivos, entendendo as lógicas, performances e definições coletivas dessas mulheres e sua comunidade, sempre respeitando seu contexto cultural.
O relato introdutório de Jesica ditou o rumo da conversa. Uma explicação sobre o país, o território e as suas múltiplas culturas:
México é um país com uma grande extensão territorial, que conta também com uma grande extensão de diversos ecossistemas e diversas culturas. Assim como em muitos países latino americanos, há mais de 60 anos, a tendência da migração para as cidades cada vez é muito mais forte. Porém no nosso país as comunidades rurais têm uma presença de mais de 50% em estados como Oaxaca ou Chiapas, e também existem outros estados que chegam a ter de 30 a 40% de ruralidade. Quer dizer, ainda quando a tendência é muito clara em viver nas cidades, ainda existe uma grande parte do nosso país que tem uma importante presença rural, com formas de habitar completamente distintas e lógicas das que se vivem nas cidades.
Grande parte dessa variedade de distintos ecossistemas também se traduzem em diversas culturas, que têm diferentes formas de entender o mundo, diferentes formas de habitar, diferentes formas de produzir arquitetura e com uma cosmovisão e uma filosofia sobre a vida que vai variando de um lugar para o outro. Quero dizer: falamos de uma grande diversidade cultural com a qual colaboramos dependendo do grupo com o qual nos levem a participar.
Os projetos apresentados por Jesica foram:
- Produção de habitação social: Exercício 1
- Produção de habitação social: Exercício 2
- Escola Rural Produtiva
DnA: Design and Architecture (Beijing/China)
No último encontro do curso, a conversa foi com Xu Tiantian do DnA, um escritório interdisciplinar sediado em Beijing que trabalha em diversas escalas, mas sempre abordando questões, físicas e sociais, contemporâneas do ambiente onde vivemos. Em sua abordagem, a discussão do contexto, programa e suas interações são o DnA que definirá o design e a arquitetura, capaz de adaptar, engajar e contribuir com nossa sociedade múltipla e complexa.
Tiantian nos apresentou alguns projetos que fazem parte de um plano nacional de reocupação das áreas rurais da China (no caso o município de Songyang), cuja evasão da população, principalmente os jovens, para os grandes centros urbanos deixou essas regiões sem nenhum tipo de perspectiva de crescimento econômico e com risco de perder grande parte de sua identidade. Segundo a própria arquiteta:
Desde 2014 trabalhamos com os governos e comunidades locais, tomando a arquitetura como uma estratégia eficaz para analisar sintomas e procurar um processo de cura para a região.
A arquiteta nos explicou o conceito de Acupuntura Urbana, utilizado no desenvolvimento deste grande plano nacional. A partir deste conceito a conversa desenrolou com as especificidades de cada um dos projetos apresentados:
O princípio da estratégia da acupunctura é servir a comunidade para restaurar a aldeia e a sua identidade e também abrir-se ao turismo e estimular o desenvolvimento econômico. Assim, em cada projeto ou em cada aldeia haverá um programa público em pequena escala, com base no seu contexto, patrimônio, cultura e história. Portanto, poderá ser uma renovação de um projeto existente ou poderá ser um novo espaço público.
Xu Tiantian apresentou os seguintes projetos:
- Oil Workshop
- Tofu Factory
- Bamboo Theatre, na comunidade de Hengkeng
- Wangjing Memorial
- Rice Wine Factory
Estes quatro vídeos são proveniente de aulas realizada entre 21 de novembro e 12 de dezembro de 2020 no curso livre Arquiteturas do Sul Global, organizado pelos arquitetos e professores Marco Artigas e Pedro Vada por meio da Associação Escola da Cidade.